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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Fotógrafo e Cineasta Bernhard Wicki na Galeria dos Arcos

A partir da próxima terça-feira, dia 12 de maio, o Instituto Goethe, em parceria com a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, inauguram a exposição Fotografias, de Bernhard Wicki, na Galeria dos Arcos, localizada no andar térreo da Usina do Gasômetro. A exposição reúne 40 fotografias produzidas por Wicki entre 1952 e 1959.
Também ator e cineasta, no âmbito da fotografia alemã do pós-guerra, a obra do austríaco Bernhard Wicki (1919-2000) ocupa um lugar especial e talvez seja este um dos motivos de ela ser pouco conhecida ainda hoje. Durante muito tempo, o ator Bernhard Wicki considerava o cinema e a fotografia como formas de arte secundárias, interessando-se sobretudo pelo teatro, pela poesia e pela pintura. Porém, ao visitar a Exposição Mundial de Fotografia em Lucerna, no ano de 1952, Wicki revê sua posição. Ele começa a fotografar em Paris, onde se apodera da fotografia de forma autodidata, passeando pelas ruas da cidade, produzindo imagens de grande beleza, em um preto e branco deslumbrante.

As 40 fotografias em exposição na Galeria dos Arcos incluem retratos de artistas e intelectuais como as atrizes Maria Schell e Hildegard Knef, o ator Horst Buchholz e o escritor Friedrich Dürrenmatt, flagrantes colhidos nas ruas de Paris, Veneza, Tanger e Nova York, entre outros lugares visitados por Wicki. A exposição fica em cartaz até o dia 21 de junho e pode ser visitada de terças a domingos, entre 9h e 21h. A entrada é franca.

Na semana de 19 a 24 de maio a Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) também receberá uma pequena mostra de filmes dirigidos por Wicki, que inclui seu trabalho mais conhecido, o clássico drama de guerra A Ponte (1959). O sucesso internacional de A Ponte levaria Wicki a dirigir três filmes em Hollywood, o épico de guerra O Mais Longo dos Dias (1963), superprodução sobre o desembarque dos aliados na Normandia, A Visita (1964), adaptação da peça teatral A Visita da Velha Senhora, com Ingrid Bergman e Anthony Quinn, e Morituri (1965), veículo para o estrelato de Marlon Brando e Yul Brynner. Wicki também trabalhou como ator, para diretores de prestígio como Antonioni (A Noite, onde fez o amigo moribundo de Marcello Mastroianni), Fassbinder (Despair), Wajda (Um Amor na Alemanha) e Wim Wenders (Paris, Texas).

Abaixo, texto de Inka Graeve Ingelmann sobre a obra fotográfica de Bernhard Wicki:

O nome de Bernhard Wicki está eternamente ligado a A Ponte, seu filme mais conhecido. Para Wicki, com o enorme sucesso mundial alcançado com este filme – foi o seu segundo – concretizou-se o sonho de todo o diretor, pois fundamenta sua fama como um dos mais importantes cineastas do pós-guerra, que lhe preparou o caminho para Hollywood. Mas em alguns momentos, este sucesso parecia uma praga, pois qualquer outro filme que ele rodasse depois – foram doze no total – e tudo o que fizera anteriormente como ator e fotógrafo, uma obra de mais de 50 anos, plena de criações abrangentes e altamente criativas, permaneceu à sombra deste filme. Com A Ponte, Wicki criou uma obra-prima de toda uma época, e que ainda hoje, mais de 40 anos após a sua produção, não perdeu sua força e integridade.

Durante muito tempo, o ator Bernhard Wicki considerava o cinema e a fotografia como formas de arte secundárias, tinha paixão pelo teatro, pela poesia e pela pintura. Este posicionamento modificou-se quando ele visitou a Exposição Mundial de Fotografia em Lucerna, no ano de 1952. Nela, vê trabalhos dos melhores fotógrafos de seu tempo, mas é principalmente uma fotografia que o fascinou permanentemente: a famosa fotografia de Robert Capa de um soldado moribundo, feita em 1936 quando da Guerra Civil Espanhola e que até hoje é considerada um ícone da fotografia do século XX. “Foi” – lembra-se Wicki olhando para o passado – “o olhar espontâneo e imparcial sobre a vida pura e simplesmente”, que tanto o fascinou nesta foto. Ele reconheceu que a fotografia não é apenas um relatório autêntico, mas que também pode desenvolver uma linguagem imagética própria e inconfundível.

Wicki começa a fotografar em Paris, a cidade que como nenhuma outra continha uma força de atração mágica para todo fotógrafo. Ele se apodera da fotografia de forma autodidata – o que sempre poderá ser constatado em suas obras – passeando pelas ruas da cidade. O que o fascina é a riqueza de sombras da metrópole francesa, além dos locais famosos, das ruas suntuosas e dos glamourosos centros de entretenimento. Ele observa o trabalho no Mercado Les Halles e visita os sem-teto ao longo do Sena. Surgem centenas de fotografias, mas Wicki amplia apenas algumas. É justamente neste período autodidata que reconhece o que o fascina na fotografia: o encontro com a realidade. Ele procura o cotidiano, o casual, o aparentemente corriqueiro. As fotografias de Wicki surgem da intuição, não são encenadas, mas compostas de maneira pessoal e inconfundível. São instantâneos, flagrantes, se assim o quisermos, às vezes captados às pressas, iluminados na fração de um segundo e ainda assim de grande intensidade. Momentos roubados do inexorável decorrer do tempo e preservados.

Nos anos que se seguem, quase todas as suas fotografias são feitas durante suas longas viagens, durante filmagens na Bósnia e no Marrocos ou quando de suas férias na Itália e na França. Raramente fotografa em Munique, onde mora. A despretensão do viajante, se abrindo a novas impressões visuais sem qualquer preconceito, é uma característica determinante do fotógrafo Bernhard Wicki. O ser humano é o centro do seu mundo imagético. Ele também é presente quando não aparece diretamente na imagem, ou onde objetos discretos ou vestígios borrados lembram sua presença. Quando fotografa seres humanos, Wicki se concentra neles, sejam estes mulheres, homens. Mesmo crianças dão a impressão de estarem cercadas de uma solidão pura, sem escapatória, entregues ao próprio destino, solitárias. Wicki descreve um tempo que deriva de qualquer utopia, profundamente abalado pelos acontecimentos catastróficos da Segunda Guerra Mundial, mas que apesar disso não deixa de conter esperança para um futuro melhor.

No âmbito da fotografia alemã do pós-guerra, a obra de Wicki ocupa um lugar especial e talvez seja este um dos motivos dele ser desconhecido até hoje. A fonte mais importante de inspiração de seu mundo de imagens é sem dúvida o neo-realismo italiano. Foram grandes obras de mestres como De Sica e Rossellini, como Ladrões de Bicicleta e Roma, Cidade Aberta, que influenciaram sua criação fotográfica e, posteriormente, cinematográfica, de maneira determinante. Em contraposição, seus retratos descobertos após seu falecimento apresentam uma linguagem imagética totalmente diferente, como é o caso da artista e colega Maria Schell ou o intelectual conterrâneo Friedrich Dürrenmatt. Influenciadas pela fotografia de vanguarda, estas suas fotos íntimas são encenadas até no menor detalhe; pose, iluminação, encenação e enquadramento de imagem. Wicki consegue estilizar seus fotografados sem se tornarem clichês, mas através de uma encenação sensível, revelando suas personalidades, muito além do simples retrato.

Para o ator Bernhard Wicki, a fotografia se tornou um instrumento decisivo para se expressar visualmente. Ele pensou seriamente em trocar de profissão e se tornar fotógrafo ou operador de câmara. Mas quando se lhe oferece a oportunidade de ser diretor cinematográfico em 1958, ele aceita sem vacilar. Por que Estão Contra Nós? é o título de seu primeiro filme, hoje esquecido, e que revela em muitas sequências o fotógrafo Wicki. Mas com suas primeiras experiências como diretor cinematográfico, Wicki reconhece que fotografia e cinema são duas formas de expressão totalmente diversas, que exigem linguagens imagéticas diferentes, bem específicas. Já seu segundo filme, A Ponte, é um claro reconhecimento da mídia filme. Com o sucesso mundial de APonte, o fotógrafo Bernhard Wicki também se torna conhecido. Em Hamburgo e Berlim são realizadas exposições individuais de seus trabalhos, em 1960 é publicado o livro Dois Gramas deIluminação, que teve um longo preparo e para o qual Friedrich Dürrenmatt escreveu o prefácio. Mas o sucesso do diretor cinematográfico é enorme e ele acaba sendo atraído para Hollywood.
Assim, Wicki desiste da fotografia. Sua obra, que acabara de ser descoberta, cai rapidamente no esquecimento.