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terça-feira, 25 de maio de 2010

Confira texto de Ricardo Chaves sobre Walter Firmo

A exposição Sem Nomes de Walter Firmo segue na Galeria dos Arcos até dia 13 de junho, de terças a domingos, das 9 às 21h.

Simplesmente imperdível.



Confira texto de Ricardo Chaves sobre Walter Firmo, publicado no Caderno Cultura da Zero Hora do dia 22 de maio de 2010.


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REFLEXO por RICARDO CHAVES

Nos últimos 40 anos andei meio ocupado, mais que tudo fotografando. Agora, recentemente, tenho feito também uma ou outra tentativa de me comunicar através da linguagem escrita. Dentro de redações e cercado de competentes escribas durante esse tempo todo (e quem sabe até por isso), nunca achei ser essa a minha praia. Mesmo diante dessa constatação, não posso negar que foi com alguma alegria e muita apreensão que recebi o convite dos meus colegas para ocupar este espaço assinado, uma vez por mês. O motivo que me leva e encoraja a aceitar semelhante tarefa é o respeito que devo, e desenvolvi, quando o assunto é o que vamos tratar aqui: imagem, especialmente imagem fotográfica. Reflexo de uma vida dedicada à causa.

Reflexo, aliás, tem no Dicionário Aurélio mais de 10 definições. Pode ser “que se volta sobre si mesmo; reflexivo. Como espelho. O que se faz por meio de reflexão; análise”. Pode ser ainda “reação involuntária, sensorial ou motora a um estímulo exterior. Cópia, reprodução, imitação. Aquilo que evoca a realidade de maneira imprecisa ou incompleta”. Enfim, tudo o que eu acho que é, e pode eventualmente ser, a fotografia.
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Walter Firmo

Até o dia 13 de junho, aqui em Porto Alegre, na Galeria dos Arcos da Usina do Gasômetro, temos a oportunidade de conhecer o trabalho de um mestre no ofício de fotografar. Lá está uma mostra com 77 fotos de Walter Firmo, esse que considero o mais brasileiro dos caçadores visuais da alma nacional. Justifico minha opinião: Firmo é, como ele mesmo se intitula, um “mulatinho do Irajá”, subúrbio carioca da Central do Brasil. Filho do seu José e da dona Maria, Walter Firmo Guimarães DA SILVA nasceu no Rio de Janeiro, em 1937. Com menos de 20 anos, depois de passar as noites dormindo sobre as aparas de papel na unidade gráfica da Última Hora enquanto aprendia alguma coisa, acabou contratado como fotógrafo do jornal. Em 1960 já estava no Jornal do Brasil e pôde participar da reforma editorial e gráfica, que valorizava a fotografia, promovida por Odylo Costa, filho, e Alberto Dines. Em 1965 foi convocado pela Editora Abril para integrar a equipe que lançou a revista Realidade, publicação que propunha e praticava um fotojornalismo de vanguarda. Firmo brilhou entre os “gringos” Claudia Andujar, George Love, David Drew Zingg, Maureen Bisilliat e o oriundi Luigi Mamprin, também recrutados para garantir a qualidade visual da revista.

Em 1967 e 1968, Firmo estava em Nova York, trabalhando para a Editora Bloch, que publicava, entre outras, a revista Manchete, quando “a ficha caiu”. Uma mensagem de telex vinda do Brasil questionava: “Como vocês puderam adotar um analfabeto, mau profissional e ainda por cima crioulo para trabalhar aí?”. Firmo ficou chocado. Ele, que até então nunca se sentira discriminado... Nunca mais foi o mesmo. Embalado pelas transformações sociais que ocorriam na América, deixou o cabelo “ruim” crescer porque, afinal, entendeu que “black is beautiful”. Voltou ao Brasil para fazer um maravilhoso inventário da presença da raça negra aqui. Colecionou, a partir desse momento, com doçura e dedicação, imagens que atestam o marcante black power na cultura brasileira. Construiu uma obra admirável. Não desperdiçou nenhuma oportunidade de enaltecer seus iguais anônimos ou de correr atrás dos mais famosos, para consagrar, cada um deles, em fotos memoráveis. Hoje é um desses últimos. É certo que Sebastião Salgado é o fotógrafo brasileiro mais conhecido internacionalmente: mora no Exterior e trabalha com maestria temas globais. Firmo atua em casa, mas, junto a quem é da área, tem reconhecimento aqui ou lá fora. Provavelmente ainda menos do que merece.

Quem for até a Usina vai encontrar Pelé, Cartola, Grande Otelo, Pixinguinha, Clementina de Jesus, Mãe Olga do Alaketu, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Arthur Bispo do Rosário, e, entre outros, seu José, fuzileiro naval, e dona Maria. Vai encontrar também os protagonistas das principais festas populares que acontecem pelo país afora. Na paisagem da cidade ou na rural, sua peculiar sensibilidade congela coloridas cenas que muito revelam sobre nossa terra e nosso povo. Algumas especialmente comoventes. Quando fotografa em preto e branco não é diferente, delicada aula de sutileza que desperta orgulho verde e amarelo.

Fotógrafos, parece, somos todos, hoje em dia. Aproveitemos e visita do mestre para ver como se faz isso, bem. Se de fato vivemos a era da abolição das fronteiras na mídia, e o fim dos especialistas, quem sabe vocês terão sucesso na fotografia. E eu, aqui, como o mais novo escriba.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Passagem de Walter Firmo pela cidade emocionou a todos

A exposição de Walter Firmo, que inaugurou na Galeria dos Arcos na 6ª feira, dia 14 de Maio, trouxe, além de imagens incríveis, a presença do fotógrafo, que com seu carisma e simpatia enacantou a todos.
Confira alguns momentos da passagem de Walter por Porto Alegre nos links abaixo.
De parte da equipe da Galeria podemos dizer que já estamos com saudades.

Aqui Kadão e Walter Firmo - Foto JBotega
quando da visita de Firmo à Editoria de Fotografia de Zero Hora


http://wp.clicrbs.com.br/focoblog/2010/05/14/walter-firmo-na-fotografia-de-zero-hora/

http://festfotopoa.com.br/2010/blog/?p=1681

A exposição pode ser visitada até 13 de junho, das 9 às 21 hs, sempre de terças a domingos.

terça-feira, 11 de maio de 2010

WALTER FIRMO, UM MESTRE DA FOTOGRAFIA BRASILEIRA

14 de maio a 13 de junho de 2010
A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura inaugura na sexta-feira, 14 de maio (um dia após a abertura do evento Maior que a Vida), às 19h, na Galeria dos Arcos da Usina do Gasômetro, a exposição Sem Nomes, do fotógrafo brasileiro Walter Firmo. No dia da abertura da exposição também será lançado o livro Brasil – Imagens da Terra e do Povo, com 260 fotos de Firmo, selecionadas por Emanoel Araújo.

Walter Firmo é uma lenda viva da fotografia brasileira. Carioca de Irajá, 72 anos, com cinco décadas de ação profissional, Firmo finalmente ganha sua primeira exposição em Porto Alegre. Trata-se de uma grande retrospectiva, com 77 imagens pertencentes ao acervo do Museu Afro-Brasil, de São Paulo. As fotografias traçam um painel extenso, que vai desde o cotidiano de negros anônimos, retratos de celebridades como Pixinguinha, Ataulfo Alves, Madame Satã, Pelé, Grande Otelo e Clementina de Jesus, festas populares, fotos de família, entre outras.

Firmo pegou pela primeira vez numa máquina fotográfica aos 8 anos de idade, a pedido do pai, que queria que ele o fotografasse com a mãe, durante um passeio em Recife, e avisou: Não se esqueça de registrar as jangadas ao fundo e não corte as cabeças e os pés. Foi também o pai que lhe disse, numa madrugada, que a fotografia valia mais que mil palavras:

— Acordei com meu pai me dizendo a frase que nunca mais me saiu da cabeça. Quando eu completei 16 anos, vi José Medeiros na revista O Cruzeiro e queria ser ele na aventura jornalística, no ir e vir em que tudo é novidade, fantasia e dinamismo. Foi especialmente o trabalho dele e do Jean Manzon que fez minha cabeça para mergulhar no cenário da fotografia em que me encontro até hoje.


Após a estréia como aprendiz em 1956, na Última Hora usando uma Rolleyflex presenteada pelo pai, Firmo foi para o Jornal do Brasil, que em 1960 passava pela reformulação gráfica implementada por Odylo Costa, filho e Alberto Dines:

— A ida para o JB foi fundamental para a minha vida profissional, pelas mudanças por que ele estava passando e porque lá eu pude executar minhas idéias e testar novos equipamentos, como as câmeras Leica e Nikon. Outro grande privilégio da minha carreira foi ser o primeiro repórter-fotográfico convidado para trabalhar na revista Realidade, em São Paulo.

Firmo estará presente ao coquetel de abertura da exposição, na sexta-feira, 14 de maio, às 19h. A partir de 15 de maio a exposição Sem Nomes pode ser visitada no horário das 9h às 21h, de terças a domingos, até o dia 13 de junho.

Abaixo, texto especialmente escrito por Walter Firmo para o material de divulgação de sua primeira exposição em Porto Alegre:

NA BASE DO PRETO-E-BRANCO
TODA COR SE MANIFESTA

Esta exposição fotográfica, cunhada nas esquinas deste país, foi construída como num jogo de tênis, ponto por ponto. Nos anos que perambulei nas redações de jornais e revistas tive a sorte e o prazer de encontrar alguns mitos na população mais humilde e a enaltecia. E nos sucessivos anos angariei uma galeria de troféus que engrandeceram meu ego de criador pousado entre a ficção e realidade.

Fiz de tudo. Desde a constatação da simples notícia fotografando um buraco na rua, quanto o espanto de uma blitz, até dormir madrugadas sobre papéis da unidade gráfica do jornal Última Hora, matutino onde comecei a carreira foto-jornalística em 1957, aguardando o plantão da redação me chamar, provavelmente para disparar um flash sobre um homem atropelado e morto na rua, um incêndio, ou um entrevero de bêbados na delegacia.

Esta exposição sem nome talvez ateste que seja uma retrospectiva, mas não é. Ela é apenas parte de um enorme corpo que compõe hoje a jornada Walter Firmo, quando, fazendo de tudo, decapito-me, mostrando parte visível de um trabalho ornado nos retratos e algumas decantações poéticas quando livremente pratico o que mais gosto: viajar na geografia humana. E, se fotografei Garrincha, Pelé, Ademir, Sabará, Gerson, Tostão e outros, nem todos estarão aqui; E se desfilei nos reinos das misses saboreando belos flagrantes documentais, elas também não estarão no universo dos arcos deste gasômetro.

Esta mostra teve a curadoria do renomado escultor Emanoel Araújo, artista consagrado internacionalmente e que hoje, em meio a tantos afazeres, sublima a direção do Museu Afro-Brasileiro em São Paulo. Esta é sua terceira edição. A primeira, durante o lançamento do livro Retratos da Terra e do Povo. A segunda, em Salvador, e agora aqui, em Porto Alegre. Na capital de São Paulo ela fez parte das comemorações do dia 20 de novembro, data consagrada à consciência negra.

O negro faz parte de mim e quando tive essa consciência fiz do meu instrumento de trabalho – a oratória do silêncio – um palanque voltado ao vislumbre em mostrar essa sociedade até então invisível, num patamar onde sua existência poética se alinhavasse ao seu trabalho, dança, religiosidade. Uma filosofia visual que transbordasse malemolência, alegria, tolerância, compreensão, aliada a uma dignidade onde a vida vale a pena ser vivida e mostrada.

Este mulatinho do Irajá, subúrbio da Central do Brasil, na excelência da sua negritude cria esse manifesto de honradez civil. Quem sabe caberia titular esta exposição de Sem Nomes, dada a confraria étnica que se debruça nestas paredes sem memória, em sua maioria cidadãos desconhecidos eleitos por mim no ventre do povo, escolhidos numa eleição onde todos são candidatos e que, atores de sua lira diária nas ruas desse Brasil, estarão assim descobertos na sofisticação do simples.

Esta apresentação é uma declaração fotográfica de se retratar o outro em sua expressividade: eu, meus pais, filhos, netos, avós, amigos, enfim, toda uma gama social exercida nesta arte imediata e reprodutiva. O retrato, desde o invento da fotografia, palmilhou a denúncia, reconhecendo verdades e desmontando mentiras.

Sem Nomes é, sobretudo, uma declaração de amor e o afeto que se encerra.


Walter Firmo, maio de 2010